Toda rede lançada ao mar tem sua serventia. Fisgar o
peixe seria o resultado óbvio nessa empreitada, porém presume-se que a
imensidão do mar pode reservar algumas surpresas. Uma sereia, um tubarão e seus
filhotes poderiam emergir da rede. O cenário das eleições nesse outubro/2014,
trás à tona a necessidade da retomada do debate político qualificado e com a
dimensão que a ciência exige. A política não é um mito. O seu exercício deve
ser constante, capaz de valorizar a compreensão do coletivo e alcançar os diversos
seguimentos sociais. Muitas falas foram ditas, entretanto, o barulho continua.
A imprensa midiática e os institutos fabricantes de ideologias inócuas
proliferaram nas mentes das pessoas. Destilaram ódio na pauta política da
sociedade. O mesmo ódio derramado nos embates da luta de classe.
Impressiona como os ânimos entre a violência e a política se mantenham
exacerbados, de tal forma, a evidenciar a tese de cientistas e estudiosos que
justificam a política como um reconhecimento resgatado da violência. Algumas
lições na disputa eleitoral serve para que se avalie o grau de comprometimento
do projeto político dos candidatos postulantes.
Coube
a Marina Silva engendrar a "nova política" ao ensaio original de
Maquiavel: "Na minha intenção de escrever coisas úteis aos meus leitores,
achei mais válido concentrar-me na realidade das coisas do que me abandonar às
vãs especulações. Muitos imaginaram repúblicas e principados antes
desconhecidos. Mas para que serve tais especulações? Há tanta distância entre a
forma como vivemos e como deveríamos viver que, ao estudarmos apenas esta
última, aprendemos mais a nos destruir do que a nos preservar"(O príncipe,
cap. XV).
Na tradução percebe-se que existe uma física da existência política que não é violada impunimente.
Coube
a Aécio Neves representar a consolidação dos diversos interesses da elite
brasileira identificada como benfeitora da social democracia e os signatários
da "nova política". Da mesma forma arrastou para si a adesão da
maioria das representações políticas com anseios contratuais de toda ordem e
natureza. É ela ou eu! O seu discurso foi carregado de uma violência
fundamental. Na disputa dois projetos distintos. Aécio seguidor das diretrizes
do Consenso de Washington (1989) adotou a linguagem de negação de tudo.
Negou a si próprio e depois o Estado. Fez desmoronar a
torre de Babel.
Articulou-se com um exercício de anulação da política,
e, esta passou a tomar conta da sua campanha. "Os ricos [...] logo [...]
sonharam subjugar e reprimir seus vizinhos como lobos famintos que, depois de
terem provado a carne humana, recusam qualquer outro alimento e só querem
devorar os homens".(Rousseau, 1989, cap. II).
Desqualificar
a sua opositora estava na ordem do dia, dos debates. Postou-se honrado e
audacioso, como se essas fossem virtudes supremas do homem e o fez como
estetização da política. Falou-se da pátria a ser salva e dessa forma realça o
desprezo a comunidade humana que há na política. A sua rebuscada
individualidade política o tornou imoral. O glorioso e bem sucedido - um
vencedor, não foi capaz de contemplar o sentido da política. Foi derrotado.
Resta
a presidente Dilma o reconhecimento de uma maioria que resiste e se qualifica
mais ainda no debate cotidiano que assume perfil e voz nas ruas, nas
trincheiras das redes sociais, nas instituições, na consolidação mútua das
liberdades, ao superar a violência. Viva sempre viva a democracia!Maria Íris Tavares Farias
Poeta / Historiadora
Mestra em Política Pública e Gestão na Educação Superior - UFC.